Economia circular na construção civil: desafios e possibilidades

Publicado em 13 . 05 . 2025

Quem já construiu ou reformou uma casa sabe muito bem a enorme quantidade de materiais utilizados em diferentes etapas do projeto. Não importa o tamanho do serviço a ser feito: sempre haverá uma necessidade grande de madeira, concreto, plástico, cimento, tijolos, entre outros itens. Basta olhar a quantidade de caçambas para remover o entulho gerado na obra. É um problema cuja resolução passa pela adoção de técnicas da economia circular na construção civil.

Trata-se de um mercado cada vez mais dependente de soluções inovadoras e eficientes para o manejo e gestão de seus recursos. Para se ter uma ideia, o relatório divulgado em 2024 pelo Programa para o Meio Ambiente da ONU (PNUMA) sobre edificações e construção indica que o setor, sozinho, foi responsável por 21% das emissões globais de dióxido de carbono.

Em um cenário socioeconômico em que os indicadores sustentáveis ocupam posição de destaque tanto para direcionar investimentos quanto políticas públicas, os números são extremamente preocupantes. É como se cada caçamba cheia de entulho levasse embora também um pouco do potencial financeiro e social daquele projeto.

Não bastasse isso, as edificações necessitam deste alto volume de materiais. Afinal, não dá para erguer prédios sem tijolos, cimento e concreto. Este último, inclusive, é o segundo material mais consumido do mundo, atrás apenas da água. Por melhor que seja o planejamento, a construção ou reforma de ambientes confortáveis, alinhados com boas práticas sustentáveis e sem risco da Síndrome do Edifício Doente exige um número grande dos mais variados recursos naturais.

A economia circular na construção civil busca lidar justamente com este paradoxo entre a demanda por materiais e a meta de reduzir o impacto ambiental do setor. O conceito apresenta alternativas eficientes para o uso dos recursos naturais, permitindo uma maior eficiência do projeto em relação aos indicadores socioeconômicos ao mesmo tempo em que estabelece uma relação saudável com o meio ambiente em seu entorno.

Atualmente, essa balança nem sempre fica equilibrada para as empresas envolvidas no setor. Porém, não representa mais um diferencial estratégico como era há dez anos; mas sim a própria sobrevivência do negócio em um futuro marcado pelas mudanças climáticas. Em outras palavras: quem não souber utilizar de forma adequada os materiais na construção civil fatalmente perderá espaço competitivo nos próximos anos.

O que é a economia circular na construção civil?

Para entender o funcionamento da economia circular na construção civil é preciso compreender o que este tema aborda. É uma proposta bem recente: o termo surgiu apenas em 1989 a partir de um artigo dos economistas britânicos David Pearce e R. Kerry Turner. Seu estudo acompanha a própria evolução do movimento ambiental, que ganhou corpo no debate público e internacional a partir dos anos 1980.

De forma resumida, propõe um novo modelo de desenvolvimento socioeconômico, centrado na utilização inteligente dos recursos naturais e na capacidade de reutilização, reciclagem e reaproveitamento dos materiais. Em suma, não há lixo, mas sim resíduos que possuem valor mesmo quando utilizado pela primeira vez. É um contraponto ao modelo econômico linear ainda em uso em grande parte do mundo, baseado apenas na extração, consumo e descarte.

Em um setor dependente de materiais e que gera um alto volume de resíduos, como é o caso da construção civil, a proposta exige uma nova abordagem das empresas e profissionais envolvidos. A utilização dos recursos deve ser totalmente planejada para não só evitar o desperdício naquela determinada obra, mas também para encontrar o destino adequado para o que for descartado, planejando sua reutilização e recuperação em outros projetos. É tão importante que há uma corrente que batizou esse movimento de “construção circular”.

Quais são os desafios da economia circular na construção civil?

Ainda que seja um conceito novo do ponto de vista socioeconômico, não há dúvida de que a economia circular na construção civil é uma proposta já consolidada como boa prática no setor. Entretanto, apesar de sua importância, empresas e profissionais da área ainda encontram dificuldades para inseri-la em suas rotinas, fazendo com que vários projetos desperdicem recursos naturais e financeiros.

O principal entrave, claro, ainda é um desconhecimento geral sobre o tema. O desenvolvimento da proposta não tem nem 40 anos e apenas mais recentemente passou a ser debatida com mais intensidade no setor. No universo da construção civil no Brasil, o percentual ainda é baixo de companhias e pessoas que se debruçaram e estudaram sobre construção circular.

Além disso, por mais que tenha avançado nos últimos anos, a própria legislação sobre o descarte e reutilização de resíduos gerados em obras possui lacunas a serem preenchidas, o que não apenas inibe boas práticas, como facilita a ação de criminosa na questão ambiental. Por fim, há a própria questão econômica, uma vez que pequenas empresas não possuem condições financeiras para encontrarem o melhor destino para os materiais.

Quais são os benefícios da economia circular na construção civil?

Mesmo assim, a economia circular na construção civil é um caminho sem volta para todos os envolvidos neste ecossistema. As barreiras existentes hoje pouco a pouco irão cair, sobretudo quando fica evidente os benefícios que essa proposta traz para os projetos e edificações. Confira algumas das vantagens:

  • Economia financeira: quando se há planejamento na utilização dos materiais, evita-se o desperdício. Assim, os projetos possuem um orçamento menor e mais controlado, reduzindo as despesas de forma geral.
  • Preservação ambiental: evidentemente, quando se extrai menos recursos naturais, o impacto da obra em uma biodiversidade também será menor. Neste modelo, o projeto deve se adequar à natureza e não o contrário.
  • Gestão eficiente: a economia circular exige de empresas e profissionais um acompanhamento contínuo do uso de materiais. Dessa forma, o gestor tem uma visão mais clara do que está funcionando e do que precisa melhorar no andamento do projeto.
  • Inovação: a construção circular exige dos profissionais alternativas ao modelo tradicional. Ou seja, estimula a inovação tanto na gestão quanto no chão de obra, encontrando meios para reaproveitar os materiais.
  • Imagem positiva: as boas práticas ambientais estão se tornando indicadores de avaliação de investimento. Adotar práticas da economia circular na construção civil melhora a imagem da empresa na captação de recursos financeiros.

As possibilidades da economia circular na construção civil

As dificuldades e benefícios da economia circular na construção civil são evidentes e facilmente perceptíveis, mas a questão principal é: como incluir esse conceito dentro de uma construção ou reforma? Isto é, quais são possibilidades existentes para projetos de qualquer tamanho? Há inúmeras formas de estimular uma construção circular. Confira alguns exemplos:

  • Reutilização e reciclagem: o primeiro ponto, claro, é estabelecer metas e estratégias para reutilizar e reciclar tudo o que for possível na obra. Há quatro categorias de resíduos na legislação brasileira e duas delas (classes A e B) enquadram materiais que podem ser reaproveitados. Em suma: uma grande infinidade de recursos podem ser reaproveitados em outros projetos ou até outros fins, como madeira, tijolos, concreto, plástico, papelão, vidro, gesso, entre outros.
  • Green Buildings: o próprio planejamento da reforma ou construção de edificações já é um importante avanço no conceito. Projetos que estimulam os green buildings (prédios verdes) para uso adequado dos recursos naturais já coloca a reciclagem, reutilização e reaproveitamento em posição prioritária, eliminando qualquer desperdício de material em sua produção.
  • Vida útil: pensar a vida útil dos materiais também ajuda a identificar novos usos para eles dentro de uma edificação. Resíduos que não servem mais em uma obra podem ajudar a erguer uma nova casa e assim por diante. Essa tática é fundamental até para otimizar a manutenção e conservação do projeto, uma vez que fica mais fácil identificar quando e como trocar algum recurso.
  • Certificação ambiental: por fim, uma possibilidade interessante é buscar por certificações ambientais que avaliam a construção ou reforma de qualquer edificação. Estes programas contam com rígidos programas de avaliação e métricas que devem ser seguidas pelas empresas e profissionais. Assim, oferecem um caminho para quem deseja adotar práticas da economia circular ou até para atestar se o trabalho desenvolvido está de acordo com os objetivos socioambientais.

GBC Brasil atua para facilitar a economia circular na construção civil

A economia circular na construção civil não é mais um assunto para o futuro, mas uma necessidade para o presente. Quanto antes as empresas e profissionais se aprofundarem neste conceito, mais rápido estarão prontos para os desafios que virão pela frente.

O GBC Brasil se posiciona como uma organização disposta a estimular o tema no mercado brasileiro, oferecendo por meio de suas certificações ambientais as ferramentas necessárias para implementação de boas práticas sustentáveis. Programas como o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), o GBC Casa e Condomínio, o GBC Life, o GBC Biodiversidade, entre outros, são importantes mecanismos de análise e avaliação.

Quer saber mais como adequar seu projeto às propostas da economia circular? Entre em nosso site e saiba mais!

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