As cidades brasileiras enfrentam uma crescente pressão por soluções sustentáveis frente aos desafios das mudanças climáticas, expansão urbana desordenada e escassez de recursos. Nesse cenário, as Soluções Baseadas na Natureza (SbN) ganham destaque como uma estratégia eficaz de urbanismo regenerativo. Ao imitar sistemas naturais, essas práticas integram infraestrutura verde aos edifícios e espaços urbanos, promovendo benefícios ambientais, sociais e econômicos.
Soluções Baseadas na Natureza são estratégias que utilizam os processos ecológicos como base para o planejamento, construção e operação de edifícios e cidades. Elas replicam a inteligência dos sistemas naturais para melhorar a eficiência energética, o conforto térmico, o controle de enchentes, a qualidade do ar e a biodiversidade urbana.
Em vez de substituir a natureza por tecnologia, SbNs a incorporam de maneira funcional – seja por meio de telhados verdes, fachadas vegetadas, sistemas de captação e infiltração de água, ou projetos arquitetônicos inspirados em organismos vivos (biomimética).
Essas soluções oferecem uma série de benefícios ambientais para os centros urbanos, começando pela melhoria da qualidade do ar e regulação térmica. Telhados verdes, fachadas vegetadas e arborização urbana ajudam a reduzir a temperatura em áreas densamente construídas, combatendo o efeito de ilha de calor. Além disso, essas soluções aumentam a permeabilidade do solo, contribuindo para a drenagem natural da água da chuva e diminuindo o risco de enchentes e alagamentos. Elementos como jardins de chuva e pavimentos permeáveis também filtram poluentes, melhorando a qualidade da água e promovendo o equilíbrio dos ecossistemas locais.
No aspecto social e urbano, elas promovem mais saúde, bem-estar e qualidade de vida para a população. Ambientes com presença de natureza são associados à redução do estresse, estímulo à atividade física e fortalecimento do senso de pertencimento. Em comunidades vulneráveis, essas soluções também podem funcionar como instrumentos de inclusão social e regeneração de espaços públicos.
Cidades que integram SbNs tendem a ser mais resilientes às mudanças climáticas, além de mais atrativas para investimentos sustentáveis e certificações ambientais. Ao reconectar o tecido urbano com processos naturais, cria-se um ambiente mais saudável, funcional e equilibrado para todos.
A cidade de São Paulo tem apostado nas Soluções Baseadas na Natureza como estratégia para enfrentar os desafios urbanos de forma sustentável. Inspiradas pelas diretrizes da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), essas iniciativas priorizam o uso de recursos naturais no lugar de intervenções tradicionais, com foco na preservação da biodiversidade, no bem-estar das comunidades e na eficiência econômica.
Entre as ações, destacam-se os Parques Naturais Municipais, como Jaceguava, Itaim, Varginha, Bororé e Fazenda do Carmo, que oferecem brinquedos naturalizados e contribuem para a captura de carbono e a melhoria da qualidade do ar. O Parque da Independência também se destaca com o uso de tetos verdes e coberturas vegetais, que aumentam a permeabilidade do solo e reduzem o risco de enchentes.
Conheça outros exemplos de SbNs bem aplicadas no país:
Implantados em áreas como o Parque JK e a Fazenda Lagoa do Nado, os jardins de chuva são canteiros vegetados que retêm e filtram a água das chuvas. Além de mitigar alagamentos, eles melhoram a qualidade da água e promovem espaços urbanos mais verdes e atrativos.
Revitalizado com ênfase em práticas sustentáveis e saberes ancestrais, o parque utiliza 90% de materiais naturais, como barro, madeira e pedra. O projeto valoriza tanto o meio ambiente quanto o patrimônio imaterial da cidade.
Espaços com vegetação nativa que abrigam colmeias de abelhas sem ferrão foram espalhados por diversas regiões da cidade. Essa iniciativa fortalece a biodiversidade, promove educação ambiental e fomenta a polinização em meio urbano.
Transformada por mutirões da comunidade local, essa praça na zona oeste de São Paulo abriga jardins filtrantes que tratam a nascente do córrego Água Preta. O projeto é exemplo de SbN integrada ao ativismo urbano e à gestão participativa.
A capital gaúcha promoveu a instalação de telhados verdes em edifícios públicos e privados. Eles auxiliam na regulação térmica, reduzem o escoamento superficial de água e contribuem para a qualidade do ar e conforto térmico dos ambientes.
No Brasil, o Green Building Council é a principal organização que promove práticas sustentáveis na construção civil por meio da certificação de edifícios. Entre as certificações mais relevantes que incorporam SbNs estão:
O LEED, por exemplo, avalia critérios como uso eficiente da água, materiais sustentáveis, energia limpa e qualidade ambiental interna. Soluções como telhados verdes, jardins de chuva e reaproveitamento de água contribuem diretamente para a pontuação.
Já no GBC Casa e GBC Condomínio, que são voltados a empreendimentos residenciais, há um reconhecimento por projetos que aliam conforto, economia e menor impacto ambiental. A adoção de soluções baseadas na natureza é altamente valorizada, especialmente em relação à ventilação natural, drenagem e áreas verdes integradas.
O GBC Brasil não apenas certifica, mas também promove educação, eventos e políticas públicas para incentivar que mais cidades adotem soluções inspiradas na natureza como parte de seus planejamentos urbanos.
As Soluções Baseadas na Natureza representam uma mudança de paradigma na forma como projetamos e habitamos os espaços urbanos. Ao integrar elementos naturais aos edifícios e à infraestrutura das cidades, é possível aliar funcionalidade, resiliência e estética de maneira inteligente e sustentável. Essa abordagem não apenas mitiga os impactos ambientais da urbanização, como também contribui para a saúde física e mental das pessoas, fortalecendo comunidades e criando ambientes mais acolhedores.
O Brasil já conta com diversas iniciativas inspiradoras que mostram como é possível replicar os princípios da natureza no contexto urbano. Quando bem planejadas, essas soluções também dialogam com certificações ambientais, como LEED e GBC Casa, impulsionando o desempenho sustentável de edificações e bairros inteiros.
Avançar na adoção de SbNs é, portanto, uma estratégia essencial para o futuro das cidades brasileiras. Arquitetos, urbanistas, gestores públicos e cidadãos podem – e devem – repensar a relação entre natureza e urbanismo, incorporando práticas que respeitam e se inspiram nos ecossistemas. Para conhecer mais cases, boas práticas e conteúdos técnicos sobre construções sustentáveis, acesse o site do GBC Brasil e descubra como a sua atuação pode contribuir para cidades mais verdes, saudáveis e inteligentes.