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Ei, você ai, Não joga o seu lixo ai!

Publicado em 28 . 02 . 2019

Curtir o carnaval nas ruas é sentir uma energia contagiante ao meio de (confesso) alguns tropeços causados por latinhas e adereços de fantasias extremamente criativas espalhados pelo chão. Em questão de segundos os foliões simplesmente esquecem Lavoisier, e o princípio de que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” fica perdido em meio a milhares de toneladas de lixo.

Em 5 dias de festa, São Paulo acumulará mais de 800 toneladas de resíduos pelas ruas ganhando, por mais incrível que pareça, do Rio de Janeiro. Visivelmente vivenciamos nesses dias um cenário de praças e calçadas sujas. No entanto, não podemos culpar o carnaval por isso, afinal quem nunca descartou lixo no lugar errado que atire a primeira pedra.

Cenas cotidianas de descarte incorreto de lixo não são abordadas e divulgadas na magnitude que precisamos para refletir com profundidade o tema. Como resultado, nos tornamos uma throw away society (sociedade do descarte).

Somente nos últimos 50 anos, consumimos mais recursos naturais do que em toda a história da humanidade. Seria ótimo dizer que o tempo também nos trouxe conhecimento suficiente para um consumo mais consciente. Contudo, o contexto é outro.

Podemos morar em um país tropical e bonito por natureza, mas não podemos ignorar os desafios de gestão urbana atrelados ao assunto, quando, somente no ano de 2016, 3,3 mil cidades destinaram mais de 29 milhões de toneladas de resíduos para locais inadequados e outros 7 milhões de toneladas se que foram objeto de coleta. Para os amantes de futebol, esses números equivalem a 204 estádios do Maracanã lotados de lixo.

O World Business Council of Sustainable Development (WBCSD) analisou o cenário mundial e apontou que a expectativa para 2050 é uma demanda por recursos naturais de mais de 300 bilhões de toneladas, superando a oferta do planeta em 400%.  Se a extração de recursos limitados já é preocupante, onde todo o resíduo advindo dessa demanda será descartado?

Não precisamos ir tão longe. No final de 2017, o mercado de exportação de resíduos foi fortemente abalado pela nota do governo chinês proibindo a entrada de resíduos estrangeiros no país.  Responsável pela importação de mais de 70% dos resíduos de plástico e 30% dos resíduos de papel produzidos no mundo, hoje, o país sente os resultados refletidos na saúde da população e nos impactos ambientais.

Sem sombra de dúvida, enfeitar a paisagem de países subdesenvolvidos com montanhas de lixo a céu aberto é uma decisão tentadora aos governantes dos países afetados pela falta de espaço e custos altos de disposição. Afinal, o (lixo) que os olhos não vêm, o coração não sente, certo?

Errado! Precisamos encarar a falta de aplicação dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) da sustentabilidade, presentes em políticas e movimentos já existentes, como fator limitante ao crescimento econômico e ao nosso estilo de vida.

Certa de 90% de toda a matéria-prima extraída para a fabricação de um único produto é descartada e pagamos por isso. O custo total é repassado aos consumidores e munícipes e mesmo assim seguimos em nosso modus operandi de consumo e descarte. Isso sim é um sinal de ineficiência, quando na verdade, deveríamos usar de ferramentas a nosso dispor para incentivarmos um novo tipo de economia: a economia circular.

Sabe aquela música do filme do Rei Leão, em que ficamos por horas com o refrão na cabeça e tudo termina em “é um ciclo sem fim? ” O objetivo da economia circular é exatamente esse! De maneira simplista muitos a definem como a circulação do material por cadeias de produção integradas gerando quase ou nenhum resíduo. Um ciclo sem fim, sem descarte, sem lixo.

Para entendermos mais a fundo a economia circular e seus imensuráveis benefícios, precisamos falar sobre os 3Rs da sustentabilidade. Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Nos últimos 20 a 30 anos, focamos no reciclado e fechamos os olhos para a redução e reutilização que, propositalmente são os primeiros Rs.

Na economia circular, onde a “geração zero” é lei, devemos fielmente começar por ações de reduzir e reutilizar para depois nos arriscar em novos horizontes como remodelar, reinserir e então, por último, reciclar.

Foi refletindo sobre os desafios das mudanças de paradigma que em novembro de 2017, o United States Green Building Council demonstrou sua real preocupação com o tema e, como ferramenta de incentivo, apresentou a certificação TRUE Zero Waste (Total Resource Use and Effciency) ao mercado das edificações.

Criada em 2013 pelo U.S. Zero Waste Business Council como a primeira certificação de terceira parte para empreendimentos de todas as tipologias e tamanhos capazes de cumprir com a definição de resíduo zero, de acordo com o Zero Waste International Alliance, a certificação veio para somar no mercado sustentável.

Com um viés que vai além, o TRUE nos instiga a refletir sobre o design dos materiais que compramos assim como apresenta diversas técnicas de fácil aplicação para que gradativamente consigamos reduzir, reutilizar, remodelar, reinserir e reciclar.

Alguma vez já se perguntou por que a barrinha de cereal precisa de uma embalagem plástica seguida de uma embalagem de papelão? Ou por que jogamos restos de alimentos fora quando na verdade eles são ricos em nutrientes e são ótimos fertilizante para jardins?

Acredito que até agora tudo ficou muito claro. No entanto, pode ser que esteja se perguntando como convencer a sua equipe e o nível C da sua empresa a adotar atitudes de menor impacto ambiental e mostrar ao mundo que a empresa é a mais nova líder do setor.

Para facilitar, resumimos aqui alguns que transcendem os imensuráveis benefícios ambientais: barateamento de custo junto aos fornecedores por meio de incentivos a remodelagem de produtos, atendimento às legislações ligadas a logística reversa e responsabilidade compartilhada, diminuição de custos operacionais de coleta interna e frequência de descarte e conscientização de funcionários e visitantes.

A certificação, atualmente já conta com mais de 25 milhões de m² registrados e/ou certificados, correspondente a 140 projetos de diferentes tipologias em 30 estados de 12 diferentes países. Empresas como a Microsoft e Tesla fazem parte dos 88 projetos já certificados que estão revolucionando o mercado e se posicionando como líderes do movimento.

Indicando o futuro da operação eficiente de resíduos e auxiliando as organizações a se preparar para os próximos desafios, a Certificação TRUE Zero Waste chegou como o mais novo diferencial no mundo corporativo e veio para ajudar as empresas a reduzirem seu impacto ambiental e seus custos operacionais.

No Brasil, adotar ferramentas como o TRUE não só está alinhado aos avançados movimentos internacionais como também está diretamente relacionado às novas políticas públicas do Plano Nacional De Resíduos Sólidos. Afinal, somos todos responsáveis pelos resíduos que geramos.

por Gabriele Rosa, True Advisor e LEED AP EBOM e Adriana Hansen, Cradle to Cradle Assessor, LEED AP BD+C e ID+C

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