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Entrevista com Gilberto Zanette, Presidente da Santa Luzia

Publicado em 06 . 09 . 2016

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Nesta semana tivemos a oportunidade de conversar com o Presidente da Santa Luzia, Gilberto Zanette. Veja como foi:
1-      Gilberto, a Santa Luzia mostra ao consumidor final, bem como aos arquitetos que é possível realizar um produto de qualidade, com alto desempenho, eficiência, redução de recursos naturais, com conteúdo reciclado atrelado a estética. Exatamente o que a Greenbuilding Brasil e High Design mostraram nos dias 9 a 11 de Agosto. Gostaria que falasse um pouco de como é esse desafio diário e o que apresentou em nosso evento.
GZ: O desafio começa com a coleta de resíduos plásticos em condições ideais para a reciclagem e a custos que façam sentido econômico. Como a logística de coletar isopor e poliuretano é muito complexa, o resíduo reciclado pode ficar mais caro que a matéria-prima virgem. Em grande parte isso acontece porque a carga de impostos é muito onerosa. O sistema tributário penaliza drasticamente a reciclagem. Deveria estimular quem ajuda a resolver o alarmante problema dos resíduos sólidos. Mas penaliza.
Na outra ponta, o desafio é cair no gosto do consumidor e assim ganhar escala. Desde que criamos nossas primeiras linhas de produtos feitos com plásticos reciclados,  há cerca de 15 anos, demos início a um novo modelo de negócio. Diversificamos o nosso portfolio e aceleramos muito o ritmo de lançamentos de produtos, com novas cores, texturas, novos desenhos e formatos. Aproveitamos muito a experiência do passado, de várias décadas de produção de molduras de madeira. No próximo ano a Indústria Santa Luzia vai completar 75 anos com uma história muito enriquecida pela decisão de reciclar plásticos. Hoje a Santa Luzia é a única empresa do Brasil com capacidade de transformar  grandes quantidades de resíduos  plásticos em  várias linhas de produtos, como rodapés, rodatetos, guarnições, rodameios, revestimentos (Ecobrick) e decks (Ecodeck), além de espelhos, molduras e porta-retratos.

Gilberto Zanette, Presidente da Santa Luzia

Desde fevereiro de 2016, os perfis Santa Luzia usados na fabricação de várias linhas de produtos têm o selo RGMat*, a primeira certificação de sustentabilidade de materiais de construção do Brasil – criada em 2012 pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini. As linhas de rodapés e outros perfis feitos com poliestireno reciclado (EPS, mais conhecido como isopor) podem agora ser mais facilmente contabilizadas na pontuação de projetos sustentáveis, como o LEED, do Green Building.
2-      Um fator que chama atenção, a Santa Luzia foi pioneira na criação de uma usina de reciclagem de resíduos industriais de isopor. Vale destacar que o isopor é considerado um grande vilão para o ambiente marinho, tanto quanto para os aterros no qual é destinado, muitas vezes, de forma inapropriada. Além disso, existe uma grande dificuldade no transporte desse material, devido a sua baixa densidade e ocupar grandes espaços. Como foi possível viabilizar economicamente esse negócio?
GZ: A principal razão da existência da Santa Luzia é, tão somente, seus clientes. Os clientes da Santa Luzia são a principal força da nossa empresa, pois são eles que impulsionam todos os dias a Santa Luzia a continuar fazendo corretamente a destinação final de toda esta quantidade de resíduos de EPS no Brasil.
A atividade econômica da reciclagem no Brasil não está devidamente contemplada dentro do paradigma atual das políticas industriais brasileiras e a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Enquanto boa parte dos municípios brasileiros ainda despejam resíduos em lixões – e governos respaldam essa prática pela falta de ação –  a qualidade de vida da população agrava-se a cada dia. Quantidades crescentes de resíduos sólidos contribuem de modo perverso para o aquecimento global, a escassez de recursos hídricos, a perda de biodiversidade e o esgotamento dos solos. No interesse do conjunto da sociedade, assim como de indústrias, prefeituras e recicladoras,  o  poder público não deveria adiar a implementação da  Lei 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos e determinou a extinção dos lixões. Isso é o mesmo que admitir a incapacidade de resolver o problema.  E tanto o Planalto quanto o Congresso Nacional caminham nessa direção. Sendo incapaz de resolver o problema, o poder público deveria ao menos parar de atrapalhar a iniciativa privada. Um excelente começo seria eliminar a pesada tributação que incide sobre a reciclagem.
3-      Acredito que o DNA da Santa Luzia seja a preocupação com o meio ambiente. Segundo o químico Michael Braungart, precisamos alterar o conceito de sustentabilidade, hoje focado em minimizar danos ao meio ambiente e/ou adotar soluções provisórias. A ideia proposta por MB é colocar o ser humano como uma oportunidade para o planeta, ou seja, contribuir para que o ambiente seja melhor, através de soluções tecnológicas que melhore o ambiente no qual está inserido. Um exemplo que cita, é uma empresa que produz carpete com a capacidade de filtrar o ar. Qual é a expectativa da Santa Luzia para esse mercado latente?
GZ: A Santa Luzia acredita que seu modelo de negócio possui grande aderência à filosofia do Dr. Braungart. Em sua grande obra, Cradle to Cradle, ele destaca que o objetivo final é que nossa sociedade consiga criar um bom equilíbrio entre os 3 E’s (Economy-Ecology-Equity). E, para isso, os agentes econômicos necessitam desenvolver novos produtos, de modo que o design, as técnicas, as matérias primas, os recursos utilizados, tenham a capacidade de se transformar em novos produtos, reduzir os resíduos, e diminuir o consumo dos recursos naturais.
Todos os produtos da Santa Luzia são recicláveis e reciclados, de modo que todos os seus resíduos, ou mesmo antigos produtos substituídos por novos, são matérias primas para a fabricação de outros produtos.
4-      Para seu segmento, como o mercado de Green Building contribui para que a melhor solução tenha maior vantagem na escolha do que a de menor preço?

Gilberto Zanette, Presidente da Santa Luzia

GZ: A Santa Luzia, através de extenso trabalho técnico e científico em conjunto com a Fundação Vanzolini, recebeu o EPD e também ACV.  Os produtos da Santa Luzia podem contribuir com até 11 pontos de crédito para as construções de todas as categorias que estão em processo de certificação do selo LEED de construção sustentável. É uma importante proposta de valor que a Santa Luzia oferece aos seus clientes e ao mercado.
5-       A Santa Luzia está galgando maiores desafios ao se instalar no EUA, gostaria que falasse um pouco sobre o motivo desse interesse no mercado norte americano, desafios, benefícios e a diferença, se houver, no modelo de negócio que será aplicada em comparação ao Brasil.
GZ: Temos visto nas feiras de negócios em diversos países que nossas linhas de produtos têm atributos crescentemente valorizados no mercado, em especial nos países mais desenvolvidos. Quanto maior a consciência ambiental do consumidor, maiores as vantagens comparativas de produtos como os nossos. Os rodapés e perfis de plástico reciclado têm vantagens sobre outros materiais. Os produtos feitos a partir de isopor reciclado são muito mais resistentes que a madeira, podem ser instalados em ambientes úmidos e são imunes a pragas. Além disso,  diferenciam-se por conta da preocupação ambiental embarcada, já que a reciclagem ajuda a preservar árvores e a retirar resíduos plásticos do meio ambiente.
 
A Santa Luzia é Membro do GBC Brasil. Conheça a empresa clicando aqui.
 
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