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Seis anos atrás uma degustação do Paladar com azeite de oliva nacional reuniu, pela primeira vez, nove marcas de pequenos produtores, com produção ainda incipiente, mas já comercialmente viáveis no mercado. Ali estavam pioneiros desse nicho de negócio no País, como Oliq, Borriello e Prosperato. Hoje as marcas somam mais de uma centena, com o apelo de um filão premium: volumes pequenos, alta qualidade e garrafinhas que custam quatro vezes o valor do azeite industrializado importado.

Esse cenário tem atraído novos empreendedores, fazendo crescer ano a ano o número de oliveiras plantadas no País, com foco no Rio Grande do Sul e na Serra da Mantiqueira. Se em 2017 o País tinha 4 mil hectares plantados, hoje já são 7 mil hectares.

“A cada ano tem um crescimento de 20% de área plantada. Ainda é pouco: na Argentina, um produtor apenas tem um olival de 10 mil hectares. Mas não há nenhum impedimento de nos tornarmos um grande produtor. Estudo da Embrapa projeta que só o Rio Grande do Sul pode chegar a 1 milhão de hectares plantados”, projeta Renato Fernandes, presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva).

Quem está apostando alto no setor é a marca Lagar H, lançada em junho deste ano por meio de e-commerce próprio e que possui 98 hectares plantados em Cachoeira do Sul (RS). Para comercializar seu produto, o negócio começou sete anos atrás – tempo médio de uma oliveira alcançar sua maturidade para produção.

“Começamos o plantio em 2014 na fazenda. A princípio, a terra era de pastagem e poderia ser boa para soja, mas ouvimos falar de azeite e decidimos investir”, conta a azeitóloga e produtora Glenda Haas, da Lagar H. “A oliveira pede um investimento maior por um prazo ainda maior. É um legado para as futuras gerações. E, com isso, a gente quer mudar um pouco a paisagem da região, de gado, soja e arroz.”

O negócio recebeu nesses últimos anos um investimento total de R$ 10 milhões, inclusive no construção do lagar (local onde é feita a extração do azeite), que ficará pronto em 2022 seguindo as orientações ambientais e de energias renováveis do selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design).

Atualmente, a marca tem 56 hectares em produção e colheu 120 toneladas de azeitona nesta safra. A projeção do negócio é chegar a 300 toneladas, número alto perto de outros muitos negócios do setor no País, mas nem tudo vira azeite Lagar H.

“Neste ano, de quase 10 mil litros, destinamos 4 mil litros ao azeite Lagar H, que é premium. A nossa ideia não é misturar tudo, é realmente valorizá-lo. Existe uma desvalorização geral de um produto que é superdifícil de fazer. O cliente se baseia muito mais no preço no que na avaliação da qualidade”, diz Glenda, advogada que nos últimos anos passou por cursos nos Estados Unidos e na Europa para se especializar em produção e avaliação de azeite.

A produtora, que também fundou a Olivoteca para ajudar a difundir conhecimentos e formar mercado consumidor, mal estreou a marca e já ganhou quatro medalhas em concursos internacionais.

A premiação do azeite nacional

Vários produtores do País ganham ano a ano premiações internacionais diversas, o que tem fortalecido o setor e gerado uma melhor educação do público consumidor. É o caso de marcas como as já citadas acima (Lagar H, Oliq, Borriello e Prosperato), além de Casa Mantiva, Sabiá, Verde Louro, Casa Albornoz, Batalha e outros.

A Casa Mantiva, lançada pelo produtor Carlos Diniz e sua mulher em 2015, produziu 2.400 litros de azeite neste ano em seu lagar, que fica em Consolação (MG), na região da Mantiqueira. Pretende estabilizar sua produção nos próximos anos em 4 mil litros.

“Os prêmios internacionais mostram que os azeites nacionais, em sua maioria, são de excelente qualidade. Infelizmente, por questões climáticas, dificilmente seremos produtores de grandes volumes.”

Carlos Diniz refere-se a alterações na safra principalmente no Sudeste, onde estão reunidos cerca de 200 produtores de azeite. Segundo dados da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), a produção na região sofre quebras a cada dois anos: em 2019, foram 40 mil litros, que caíram para 27,5 mil em 2020, depois cresceram para 50 mil litros neste ano.

No Sul é a mesma coisa, segundo dados do Ibraoliva: em 2021 foram 202 mil litros; em 2020, 45 mil litros; e em 2019, 180 mil litros. “Há uma teoria que fala em bienalidade na produção das oliveiras, um ano mais fraco e outro expansivo. E isso é o que observamos tanto no Sul quanto na Mantiqueira”, diz Renato Fernandes, do Ibraoliva, que também mantém a sua própria marca de azeite, a Vila do Segredo.

Para Moacir Batista do Nascimento Filho, presidente da Assoolive e produtor da marca Olivais de Catas Altas da Noruega, era esperado um crescimento constante da produção nos últimos anos, pelo aumento do plantio e amadurecimento dos pomares.

“Ocorre que a cultura oliveira é altamente afetada pelas condições climáticas de cada ano, que definem a ocorrência da floração e sua intensidade, o que definirá a produção do ano seguinte. Neste ano, estamos tendo condições de clima muito favorável, portanto temos boas expectativas para 2022”, diz ele. Com a marca Catas Altas, ele produziu neste ano 200 litros de azeite, mas projeta que o negócio alcance, nos próximos anos, 3.000 litros.

Volume produzido e consumido

Os números podem parecer superlativos à primeira vista, mas ainda são minúsculos. Contudo, revelam espaço para crescimento do setor no País. Atualmente, o Brasil importa por ano 104 milhões de litros de azeite, volume que cresceu 18% no último ano, segundo o degustador profissional e especialista em negócios da olivicultura Paulo Freitas.

“Produzir 240 mil litros por ano no País não é nada (perto do volume importado). Mas o que se observa é que o aumento da importação demonstra claramente o aumento do consumo. O brasileiro está consumindo mais azeite, isso é fato.”

Para Paulo, há possibilidade de o Brasil se tornar um player internacional maior no setor, visto que um país pequeno como o Uruguai já produz cinco vezes o que o Brasil produz: 1 milhão de litros por ano.

“Na hora em que alcançarmos 1 milhão de litros, aí vira outro negócio. Ainda assim será 1% do consumo do Brasil. Mas é um consumo premium, e o consumo premium geralmente gira em torno de 1%, 2% do volume do produto convencional. Há mercado para isso, assim como se desenvolveu o mercado de queijos, cervejas e outros alimentos”, completa Paulo.

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Por, Ana Paula Boni, Estadão

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