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Em vez de plantar um gramado, que exigiria rega, poda e adubação constantes, a empresa decidiu usar plantas nativas que praticamente se cuidam sozinhas. Hoje, a vegetação que atinge a altura dos ombros ondula ao vento e atrai animais silvestres. “Uma das plantas estava repleta de tentilhões amarelos”, comentou Patrick J. Garay, vice-presidente de projetos estratégicos da Air Products.

Esqueça a manutenção trabalhosa. Atualmente, as áreas verdes corporativas estão se tornando naturais.

A mudança, que reflete o que vem sendo feito em parques públicos, universidades e quintais residenciais, está sendo impulsionada por uma crescente conscientização sobre os custos ambientais da instalação e da manutenção de gramados, cercas vivas bem aparadas e canteiros de flores organizados. Novas leis americanas proíbem o uso de água para regar grama “inútil” em regiões propensas à seca, e os programas de sustentabilidade corporativa englobam o terreno em que a empresa está localizada. Aplicativos calculam a pegada de carbono dos jardins da mesma forma que monitoram as emissões de gases de efeito estufa dos edifícios.

“Há muito mais ciência e rigor ecológico por trás do projeto paisagístico”, disse Michael Grove, diretor de arquitetura paisagística, engenharia civil e ecologia da Sasaki, empresa de design envolvida no desenvolvimento de dois aplicativos de rastreamento de carbono.

A resistência ao paisagismo convencional pode surpreender aqueles que imaginam que todas as plantas verdes são igualmente benéficas para o planeta.

Mas, à medida que os gramados bem cuidados dão lugar a jardins selvagens e os canteiros de plantas sazonais são substituídos por vegetação nativa, vem se firmando uma estética mais livre, ou, como alguns diriam, mais bagunçada. Seria o equivalente paisagístico ao visual “acabei de acordar”.

Novos tempos

Essa nova onda de projetos paisagísticos está desafiando a imagem que se tinha de um campus corporativo em meados do século 20. Os edifícios costumam ser cercados por gramados verde-esmeralda, contribuindo para os mais de 16 milhões de hectares de gramados dos Estados Unidos. Será que o público vai se acostumar com esse novo visual? “Isso requer uma mudança significativa de perspectiva”, afirmou José Almiñana, diretor da Andropogon, a empresa de arquitetura paisagística que projetou a área da Air Products.

A grama azul do Kentucky, espécie bastante usada em gramados, retira dióxido de carbono da atmosfera. No entanto, sua propagação em todos os lugares prejudica as plantas nativas, que estão em sintonia com o clima local e fornecem alimento e habitat para pássaros, abelhas e borboletas ameaçados de extinção. Além disso, há o custo ambiental de manter gramados exuberantes – o ciclo infinito de regar, eliminar ervas daninhas, aparar e descartar o excesso de grama aparada.

Estima-se que os equipamentos de paisagismo emitam quase 27 milhões de toneladas de poluentes por ano. Um soprador de folhas movido a gasolina usado por uma hora emite a mesma quantidade de carbono que um carro ao percorrer 1.700 quilômetros.

Com o agravamento da crise climática, muitas empresas recorrem aos jardins para alcançar suas metas de sustentabilidade e ostentar sua preocupação ambiental. “O edifício é destinado a uma clientela privada, mas a área verde é visível ao público”, observou Barbara Deutsch, CEO da organização sem fins lucrativos Landscape Architecture Foundation.

Na sede da Ford Motor em Dearborn, no Michigan, há gramados por toda parte. Mas, depois que anunciou um plano diretor para o campus propondo mais “ambientes naturais”, a empresa decidiu transformar os oito mil metros quadrados de grama em um bosque. “A grama que ficava embaixo e ao redor das árvores tinha de ser aparada várias vezes por semana”, disse Christopher Small, gerente de projeto do plano diretor das instalações da Ford.

Trabalhando com a empresa de arquitetura paisagística OJB, a Ford ampliou e nivelou a área do bosque, permitindo a criação de lagoas para captar e filtrar as águas pluviais. A empresa plantou gramíneas e flores silvestres e criou trilhas para caminhadas na área coberta de vegetação que chega a 30 cm de altura, e que agora só precisa ser aparada duas vezes por ano. “Há 15 anos, quando propúnhamos algo assim, éramos encarados com ceticismo, mas agora é muito mais fácil vender essa ideia”, afirmou James Burnett, presidente da OJB.

Em uma pesquisa feita em 2021 com mais de 500 membros da Sociedade Americana de Arquitetos Paisagistas, 75 por cento deles informaram que mais clientes estavam solicitando soluções de design para lidar com as mudanças climáticas em comparação ao ano anterior.

As diretrizes estaduais e locais também estão promovendo mudanças. As normas de gestão de águas pluviais estimularam a criação de valetas com vegetação, conhecidas como biovaletas, para reduzir o escoamento da água da chuva. Uma nova lei do estado de Nevada proibirá o uso da água do Rio Colorado, que vem diminuindo em consequência de décadas de uso excessivo e da seca agravada pelas mudanças climáticas, para irrigar gramados “não funcionais” ou “inúteis”. Os proprietários de imóveis que substituírem grama, arbustos e árvores não nativos por plantas do deserto podem obter descontos na conta de água.

Segundo Terrence McCarthy, gerente da política de recursos hídricos de Los Angeles, desde 2015 a cidade já cadastrou 298 clientes comerciais, industriais e institucionais em seu programa de incentivo, que paga às empresas US$ 5 por metro quadrado para a troca de grama pela papoula-da-califórnia e por outras plantas nativas e tolerantes à seca. Ele acrescentou que as empresas que fizeram a mudança reduziram as despesas com água, porque não precisam mais acionar os aspersores o tempo todo.

O U.S. Green Building Council, que administra a certificação Leed para edifícios sustentáveis, tem um programa semelhante, o Sites, para áreas verdes que promovem a biodiversidade, conservam recursos e protegem ecossistemas. Dos 317 projetos inscritos no programa, 11 por cento são comerciais, de acordo com Danielle Pieranunzi, diretora do programa. “Não se trata apenas de um projeto estético”, acrescentou.

No entanto, essas novas áreas verdes podem não eliminar imediatamente a trabalheira. Até que as plantas nativas se espalhem, pode ser necessário eliminar as plantas invasoras. E estabelecer um jardim selvagem não é necessariamente mais barato do que plantar um gramado e canteiros de flores.

Mas os ganhos ambientais podem ser significativos. Uma nova pesquisa demonstrou que jardins selvagens beneficiam os polinizadores e enriquecem o solo. Algumas áreas verdes estão sendo projetadas com a intenção específica de causar um impacto positivo no clima, retirando da atmosfera mais carbono do que o emitido em sua instalação e sua manutenção.

Pamela Conrad, arquiteta paisagista, desenvolveu um aplicativo de rastreamento de carbono que orienta paisagistas sobre como armazenar mais carbono. Ela disse que, até o momento, 787 projetos foram testados no aplicativo, sendo que os do ano passado reduziram sua pegada de carbono em 12 por cento. “Se o paisagista adicionar pavimentação ao projeto, a pontuação cai, e vai ser preciso um período de 50 anos para compensar a pegada de carbono. Se acrescentar árvores, serão necessários só dez anos.”

Mesmo as empresas que adotam uma abordagem ecológica muitas vezes desejam manter uma área de gramado para jogar frisbee ou trabalhar ao ar livre. Mas muitas estão reduzindo os gramados ao mínimo, usando gramíneas nativas ou simplesmente aparando a grama com menos frequência.

“Na nova unidade em Allentown, nossa decisão foi questionada, especialmente quando a vegetação tinha acabado de ser plantada e os jardins pareciam um campo de ervas daninhas”, contou Garay, da Air Products. A empresa explicou sua nova abordagem em um boletim informativo e colocou placas ao redor da propriedade. Em uma reunião da comunidade, Garay deu uma palestra sobre as vantagens dos jardins selvagens para o meio ambiente. “Quando as pessoas conhecem os benefícios, dá para ver que concordam. Elas estão começando a entender que esses pequenos impactos positivos vão se somando ao longo do tempo.”

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Via Estadão

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