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No número 467 da Avenida Bagé, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, um prédio discreto chama a atenção de quem chega mais perto. Na fachada verde, plantas dominam as sacadas e janelas. A estrutura leve deixa muita luz entrar. Quem o vê de longe ou de prédios mais altos nota as placas solares posicionadas no seu topo. O empreendimento residencial é o Idea Bagé, que em dezembro recebeu do Green Building Council (GBC) Brasil o selo verde na categoria Casa & Condomínio no nível mais alto, o platinum. Tornou-se o primeiro do país nesse patamar de certificação.

O GBC começou a certificar construções “verdes” nos Estados Unidos em 1994. Atualmente, concede no Brasil os selos Leed, Casa & Condomínio, Life e Zero Energy para edificações que cumpram critérios de eficiência operacional e sustentabilidade. Com seu selo mais popular, o Leed, certificou 108 edifícios comerciais no Brasil em 2022. A entidade acompanhou todo o processo do edifício residencial em Porto Alegre, do projeto arquitetônico até o final da obra.

Mauro Touguinha de Oliveira, engenheiro sócio-diretor da Capitânia Investimentos, responsável pelo empreendimento, tinha confiança de que a empresa estava criando o prédio residencial mais sustentável do Brasil. “Mas seria muito fácil simplesmente colocar meia-dúzia de painéis fotovoltaicos, uma cisterna para captar a água da chuva e sair falando. Por isso, buscamos a certificação de um órgão independente, para provar o diferencial”, diz.

Todo seu projeto arquitetônico até a obra final foi acompanhado pela Green Building Council (GBC) Brasil  — Foto: Divulgação / Capitania Investimentos

Todo seu projeto arquitetônico até a obra final foi acompanhado pela Green Building Council (GBC) Brasil — Foto: Divulgação / Capitania Investimentos

A GBC avalia a construção em algumas categorias: localização (como se relaciona com o entorno/local – erosão do terreno, controle da poluição no canteiro da obra), energia de atmosfera (eficiência energética e geração de energia renovável), uso da água, qualidade ambiental interna (conforto, saúde e bem-estar), materiais de baixo impacto socioambiental e responsabilidade social.

Dentro de cada uma, há itens obrigatórios e outras sugestões para começar a pontuar. O mínimo para conseguir a certificação verde no Brasil é 40 pontos e o máximo é 110 pontos. São quatro níveis: 1. Certied (40 – 49 pontos), 2. Silver (50 – 59 pontos), 3. Gold (60 – 79 pontos) e 4. Platinum (+ de 80 pontos).

No caso do Idea Bagé, o CEO da Green Building Council, Felipe Faria, conta que um dos principais diferenciais é na energia limpa: o prédio apresentou eficiência 40% superior à norma. Suas placas fotovoltaicas conseguem produzir três vezes a energia gasta nas áreas comuns e o restante é utilizado pelos seus 14 apartamentos. “Como ele fez isso? Começou na parte do projeto: investiu em inteligência de arquitetura, simulação energética considerando toda carga solar da região. A fachada norte também vai explorar a iluminação solar, técnicas de sombreamento de fachada, todas as escolhas foram pautadas nesses estudos prévios de simulação”, explica Faria.

O edifício conta com painéis solares que aquecem a água, sistema de captação da chuva, reaproveitamento da água do ar-condicionado, bicicletário, iluminação 100% led, fachada térmica e acústica, garagens com recarga para carro elétrico, sensores inteligentes que medem os consumos de água, energia e gás e fachada com acabamento auto-limpante. Faria conta que a emissão de C02 no Idea Bagé foi a menor possível durante a obra: a maioria dos fornecedores de materiais tinham declaração ambiental de controle. Na operação do edifício, as emissões continuam contidas por causa do uso inteligente de energia.

O morador Ály Ferreira Flores Filho se mudou para o prédio em outubro de 2021. Conta que buscava um edifício mais moderno e que os recursos sustentáveis foram fatores importantes na hora da compra. “Reduzimos o consumo de energia elétrica da concessionária, o que nos traz economia e créditos na fatura e ainda ajuda a disponibilizar mais para quem precisa”, destacou.

Segundo o CEO da GBC, os benefícios da certificação vão além da sustentabilidade: para o morador, representam mais conforto, saúde e bem-estar. “Exploramos muito essa ideia – conforto acústico, luminoso, visual, olfativo, qualidade do ar. Na maioria dos casos, passamos muito tempo do dia em casa. Isso impacta nosso sono, produtividade”, afirma.

No caso do Idea Bage, estima-se que a construção mais eficiente gere economia de R$ 9.500 para cada apartamento por ano. A Capitânia afirma que o projeto sustentável não encareceu os apartamentos para os compradores. O metro quadrado do apartamento é vendido a R$ 14,5 mil.

O Idea Bagé não é único empreendimento “verde” da empresa. Mauro, sócio da Capitânia, explica que “Idea” é um conceito “guarda-chuva” para diferentes produtos. Nasceu quando a Capitânia decidiu pesquisar como baixar o custo de morar num imóvel ao longo dos seus cerca de 50 anos de vida útil. “No início, víamos soluções pontuais. Logo percebemos que a resposta estava em uma única palavra: sustentabilidade. A partir daquele momento, invertemos a equação. Em vez de procurar formas de reduzir o custo de morar, fomos atrás de recursos”, conta. Há outros dois prédios dessa linha em construção em Porto Alegre, ambos no bairro Petrópolis — e a expectativa é de que também consigam a certificação da GBC.

Via Um Só Planeta 

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