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Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru enviam produtos para empresa que faz trituração para reaproveitamento em forração de automóveis.

O que fazer com resíduos da preparação de 3,4 mil refeições por dia? O Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, faz compostagem e adubo para a produção de chás que são servidos aos pacientes. E como dar destino correto a lençóis, toalhas e pijamas que são lavados e desinfetados diariamente? Os hospitais Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, ambos do Grupo Marista, também na capital paranaense, enviam os enxovais que não servem mais para uso para uma empresa que faz trituração para reaproveitamento em forração de automóveis.

Os exemplos vêm de hospitais que foram além de exigências legais de preservação ambiental e buscaram diferentes soluções para reduzir a quantidade de lixo que produzem. Outro caso é encontrado em Maringá, noroeste do Paraná. Ao planejar uma estrutura do zero, os sócios do Unique Medical Center, que está em construção, priorizaram no projeto a entrada de iluminação natural, pensando tanto em sustentabilidade como em conforto dos pacientes.

A ideia de produzir chás começou em maio de 2018 no Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico do país. Desde então, anualmente cerca de 14 toneladas de materiais orgânicos são reciclados e usados no cultivo de 120 quilos de ervas. “Não foi economia que nos levou a isso. Seria mais barato colocar em um saco e enviar para o aterro”, comenta o diretor corporativo, José Álvaro da Silva Carneiro, que ressalta a importância de reforçar o conceito de reaproveitamento em um hospital de ensino e pesquisa. “Ir além passa a ser um compromisso moral.”

Na cozinha, de onde saem refeições para pacientes, acompanhantes e trabalhadores do hospital, são separadas cascas de frutas, verduras e legumes, que seguem para composteiras e meses depois viram biofertilizantes. Esse processo e a plantação de ervas são feitos em parte do terreno que abrigará uma nova unidade do hospital. Após a colheita, chás de camomila, capim-limão, erva-cidreira e hortelã são preparados e servidos diariamente aos pacientes internados – são 40 litros de chás por dia. A “hora do chá”, de acordo com Carneiro, é usada por educadores que atuam no Pequeno Príncipe para falar de questões ambientais.

“Ir além do que é exigido passa a ser um compromisso de ordem moral” — José Álvaro Carneiro

O chá é um ingrediente visível da preocupação com o planeta, mas o hospital atua em outras frentes, como o uso de painéis fotovoltaicos para economia na conta de energia e a neutralização da emissão de gases de efeito estufa por meio da proteção de 10 hectares de florestas de Mata Atlântica no município de Antonina, litoral do Paraná, em parceria com a ONG SPVS.

“Partimos do princípio de que o problema ambiental é gigantesco e todos precisam dar atenção”, diz Carneiro.

Nos hospitais Marcelino Champagnat e Cajuru a busca por uma alternativa para a destinação correta de enxovais começou durante a pandemia de covid-19, quando os atendimentos aumentaram e a produção de resíduos, também. A logística reversa, com reaproveitamento das peças, foi a solução. De outubro de 2021 a março de 2023, 6,5 toneladas de tecido foram enviadas para uma parceira que fica em Fazenda Rio Grande, próximo a Curitiba, onde foram triturados e encaminhados para outra empresa que produz forração para painéis de automóveis.

André Hoffmann, coordenador de facilities do Grupo Marista, explica que são retirados os botões e as peças são higienizadas e armazenadas para coleta. “A vida útil de lençóis e roupas hospitalares é menor, porque a lavagem é mais agressiva. Com o modelo que adotamos, além de mais sustentável, também passou a ser mais econômico”, conta. Uma atenção especial tem sido dada aos cobertores. Quando é verificado algum dano nas peças, elas são reduzidas para serem usadas por crianças em creches do grupo ou para uso de pets de hospital veterinário.

Um dos diferenciais que o Unique Medical Center quer entregar aos pacientes quando começar a operar, no segundo semestre de 2024, é a presença de luz natural em seu interior. O complexo começou a ser planejado em 2013, quando médicos se uniram para investir em um complexo com duas torres que terá salas comerciais para profissionais da área de saúde, heliponto, lojas, cafeteria e um hospital com até 230 leitos.

A torre do hospital terá dois átrios para a entrada de luz em todos os ambientes, inclusive UTIs, quartos e postos de enfermagem. De acordo com o médico Márcio Beckhauser da Silva, presidente do conselho de administração, a proposta traz em sua concepção a redução no tempo de recuperação dos pacientes, o bem-estar de acompanhantes e equipe de atendimento, entre outras vantagens. A intenção dos sócios é também obter a certificação LEED de construção sustentável, com diminuição de 40% no consumo de água, 30% no de energia, 35% de emissão de CO2 e 65% na geração de resíduos.

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Por Marli Lima Iacomini — Para o Valor, de Curitiba

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