No documento “Panorama da Sustentabilidade Corporativa” apresentado pela Amcham Brasil, em parceria com a Humanizadas, 76% das companhias brasileiras já ocupam posição relevante na curva de maturidade da sustentabilidade, 52% estão engajadas na adoção de ações e 24% lideram iniciativas em seus setores”.
Na pesquisa, entre os principais desafios enfrentados pelas empresas para avançar em suas metas, estão:
Dentre estes desafios, o mais preocupante é o engajamento da alta liderança, pois é com ela que tudo começa, ela é essencial para alinhamento e formação de cultura, é impossível desvincular estes itens, que são totalmente conectados. Esta preocupação aumenta quando olhamos para o newsletter escrito por Fabio Alperowitch, “Green Rhetoric, Grey Portfolio”:
“Nos últimos anos, muitos empresários brasileiros têm manifestado apoio público às pautas climáticas. Muitos aplaudem e apoiam a realização da COP30 em Belém, aderem a coalizões em prol do clima e repetem discursos sobre sustentabilidade nas empresas. Isso é, em tese, um progresso bem-vindo. No entanto, há uma incoerência desconcertante entre esse discurso verde e a realidade cinzenta de seus investimentos pessoais. Ou seja, enquanto pregam a urgência da agenda climática, continuam alocando seu próprio capital em setores e práticas que contradizem frontalmente os objetivos climáticos que dizem apoiar. Como investidor engajado na sustentabilidade há décadas, não posso ignorar esse descompasso – e convido meus pares a refletir sobre ele de forma crítica e honesta.
É inegável que a conscientização climática chegou ao mainstream do mundo dos negócios. Ver líderes empresariais abraçando causas ambientais e falando em redução de emissões indica que, pelo menos no discurso, o clima virou prioridade. Mas será que esses líderes já pararam para analisar onde seu dinheiro literalmente dorme à noite? Infelizmente, na maioria dos casos, a resposta é não. Ainda vemos fortunas e fundos de investimento financiando modelos de alto carbono – seja expandindo empreendimentos que envolvem combustíveis fósseis, seja investindo em cadeias produtivas associadas ao desmatamento ou à poluição desenfreada. Em público defende-se a transição para uma economia de baixo carbono; em privado, segue-se lucrando com o status quo carbono-intensivo. Essa dicotomia entre falar e fazer não apenas soa hipócrita, como também é estrategicamente míope para os negócios no longo prazo.”
Analisando esse paradoxo, Fabio considera duas hipóteses possíveis. A primeira é que muitos empresários sinceramente não percebem que seu investimento pessoal desmente seu discurso público. Nessa hipótese, o erro é mais de desatenção do que de “esperteza” (má-fé), portanto de mais fácil correção.
A segunda hipótese, segundo Fabio, é mais incômoda: alguns líderes podem, “espertamente”, ter adotado a agenda climática apenas como estratégia de imagem, colando-se a um tema em voga para colher aplausos, enquanto nos bastidores continuam fazendo negócios exatamente como antes. Isto é um greenwashing, ou seja, o apoio climático não passa de uma encenação. É fácil endossar manifestos e posar de líder climático enquanto isso rende boa imprensa – e ao mesmo tempo manter o dinheiro, confortavelmente, aplicado em empreendimentos que emperram o progresso ambiental.
Perante esta hipótese, Fabio se posiciona claramente: “Se este for o caso, trata-se de um cinismo perigoso. Perigoso porque subestima a inteligência alheia (cada vez mais há escrutínio sobre onde e como os ricos investem) e porque ignora tendências de mercado que caminham para punir empresas não sustentáveis. Nesse cenário, meu apelo é direto: é hora de superar o marketing vazio. Empresários verdadeiramente sofisticados não precisam desse teatro. Em vez de greenwashing, é hora de benchmarking: comparar-se aos melhores do mundo e perseguir excelência real em investimentos alinhados ao futuro do planeta.”
Isto nos leva de volta ao principal desafio que foi apontado pelo trabalho da Amchan, a visão de Capitalismo para Shareholder (…Desafio n° 1. comprovação do retorno financeiro das ações sustentáveis…), que estes líderes ainda enxergam. Nesta hipótese, é crucial incentivar o olhar do Capitalismo para Stakeholder e dissipar de vez um mito: investir com consciência climática e social compromete o retorno financeiro. Fabio explica que: “Muitos investidores tradicionais ainda acreditam que considerar critérios ambientais ou sociais seja “bonitinho, mas não lucrativo”... Incorporar fatores climáticos à análise de investimentos significa, em essência, incorporar novas camadas de avaliação de risco e oportunidade. Trata-se de olhar para o risco de forma sistêmica e holística: quem investe com consciência climática analisa não só balanços e indicadores financeiros de curto prazo, mas também a resiliência do modelo de negócio às mudanças do clima, às futuras regulamentações ambientais, às demandas de consumidores mais conscientes e às disrupções tecnológicas verdes. É uma análise de risco-retorno mais abrangente, que leva em conta possíveis passivos ocultos, como multas, litígios ambientais ou perda de mercado e, também, oportunidades de inovação e vantagem competitiva. Em outras palavras, é um investimento mais sofisticado que o convencional – pois considera variáveis que o investidor comum ignora por miopia ou conservadorismo.”
Alinhado com esta visão do Fabio, pesquisas que fiz, com o objetivo de verificar o quanto culturas de algumas empresas, líderes dos seus setores e com resultados financeiros extraordinários, estão em linha com o conceito de Cultura da Sustentabilidade e Alto Desempenho (quem se interessar, maiores detalhes podem ser vistos nos 3 livros – onde estudo a Toyota, o Banco ABN AMRO REAL e as empresas mencionadas no livro “Feitas para Durar” – que publiquei na Amazon). Estas culturas, muitos delas centenárias, estavam bastante alinhadas com a sustentabilidade. Mesmo diante destas informações, que são facilmente verificadas, quando olhamos especificamente para o topo da pirâmide de renda, para muitos dos indivíduos mais influentes e abastados, verificamos que seus recursos pessoais ainda alimentam atividades que minam o futuro climático, que eles mesmos dizem querer assegurar! Isto inviabiliza a construção da Cultura da Sustentabilidade e Alto Desempenho, que exige líderes verdadeiramente propositais e engajados.
“A alma não tem segredo que o comportamento não revele”
Lao Tsé
Precisamos, urgentemente, enfrentar essa contradição firmemente, visando conseguir que estes empresários alinhem o discurso e a prática, através da educação e divulgação em massa de exemplos concretos onde a adoção de boas práticas socioambientais não reduz as margens. Empresários que genuinamente acreditam na causa da sustentabilidade devem liderar pelo exemplo e divulgar massivamente e mostrar que: “Sempre dá certo fazer o certo”. Já, aqueles cujo apoio ao clima é apenas superficial, convidamos a analisar mais profundamente e reconsiderar suas prioridades, pois nesta Quarta Revolução Industrial, onde a transparência é uma exigência do mercado e, cada vez mais uma realidade tecnológica, os líderes visionários já adotaram a ÉTICA (fazer pelos motivos certos) como estratégia pois enxergaram, considerando que a sustentabilidade não é modinha de marketing, e sim uma tendência irreversível no mundo dos negócios: “Fazer certo (EXCELÊNCIA), da maneira certa (EFICIÊNCIA), pelos motivos certos (ÉTICA) – isto é, Capitalismo para Stakeholders”.
Adotar critérios sólidos de SUSTENTABILIDADE nas decisões financeiras não significa sacrificar lucro; significa buscar um lucro mais inteligente e perene. Significa proteger seu legado empresarial em vez de sabotá-lo com incoerência. Conforme menciona o Fabio: “A COP30 e outras iniciativas colocam os holofotes sobre a urgência climática – mas de nada adianta bradar metas ambiciosas nos eventos se, nos balanços patrimoniais, tudo continua igual. A verdadeira liderança exige coragem para fazer perguntas difíceis e inteligentes a si mesmo”.
NOTA Santo Agostinho para converter pessoas ao cristianismo, usava a tática baseada no seu pensamento: “Se o ganancioso souber como é bom ser pessoa boa, se comportaria como uma boa pessoa só por ganância”. A nossa cultura produziu uma frase semelhante com muita criatividade: “Malandro que é malandro, se soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem.”
Eu plagiaria dizendo: O empresário “esperto”, se soubesse que a cultura da sustentabilidade e alto desempenho traz bons resultado financeiros, além dos benefícios socioambientais, construiria uma cultura da sustentabilidade e alto desempenho só por “esperteza”.
Para ajudar empresários a compreender que investir em aspectos socioambientais não reduz as margens de lucro, seguindo a tática de Santo Agostinho, é importante apresentar exemplos concretos e argumentos sólidos, através de:
1. Apresentação de Casos de Sucesso, mostrando que fazer o certo, sempre dá certo (se houver interesse, veja uma série de artigos que tenho publicado no Linkedin e newsletters do GBC (Green Building Council Brasil).
2. Mostrar Benefícios a Longo Prazo (leia o excelente livro “Feitas para Durar” de Jim Collins e Jerry T. Porras).
3. Evidenciar a Importância da Cultura Organizacional (Caso se interesse, maiores detalhes podem ser vistos nos meus 4 livros na Amazon, onde analiso a aderência de culturas de diversas empresas com a cultura da pragmática da sustentabilidade e os excelentes resultados que elas têm obtidos, e saliento a importância e as vantagens de se construir conscientemente uma cultura de excelência, eficiência e ética).
4. Apresentar Dados e Pesquisas, como por exemplo, o estudo que apresento em um artigo no Linkedin e newsletter do GBC, sobre construções sustentáveis, mostrando que os custos finais das obras certificadas pelo LEED, mesmos os graus ouro e platina, não foram estatisticamente superiores aos das obras não certificadas .
E, para que possamos viabilizar a segunda etapa da tática de Santo Agostinho, e obter a “conversão” total dos “empresários espertos” ao conceito mencionado pelo Dalai Lama: “Sempre dá Certo fazer o Certo” (princípio fundamental da sustentabilidade) convencendo este grupo a praticar o Capitalismo para Stakeholder.
Para viabilizarmos isto é necessário:
5. Enfatizar a Responsabilidade Socioambiental, que é uma exigência crescente do mercado e pode ser uma vantagem competitiva. Empresas que adotam práticas sustentáveis são vistas como líderes e inovadoras, o que atraem mais clientes, investidores, engajam os colaboradores, e trazem benefícios para a sociedade e planeta.
6. Promover a Transparência, pois nesta Quarta Revolução Industrial, puxada pela novas gerações e tecnologia passou a ser a maior exigência da sociedade, que por sua vez exige integridade e, consequentemente, ÉTICA.
7. Mostrar a Importância da Empatia, fundamental para passarmos da mentalidade do “EU” para a mentalidade do “NÓS”, promovendo o fortalecimento geral da CONFIANÇA e consolidação do Capitalismo para Stakeholder.
8. Reforçar a Visão de Longo Prazo, levando os empresários a jogar Jogos Infinitos, objetivando a perenidade das organizações.
___
Eng. Naval pela Escola Politécnica – USP, pós-graduado/especialização/CEAG em finanças e engenharia pela FGV/EPUSP.
Atuou como Presidente, Diretor e Executivo em grandes empresas nacionais e internacionais (METRÔ, ABN AMRO Banco Real, Banco Itaú, ITAUSA – ITAUPLAN, Rhodia) e como consultor no Governo do Estado de São Paulo (Assuntos Estratégicos).
Ex. CEO do GBC (Green Building Council Brasil), trabalhou 10 anos desenvolvendo projetos de eficiência energética (Pioneiro em Cogeração), fontes alternativa de energia, uso racional de água e tratamento de resíduos. Pioneiro em Certificação LEED e ISO 14.001 para edifícios. Professor e Consultor nas áreas de Sustentabilidade (ESG), Liderança, Equipes de Alto Desempenho e Planejamento Estratégico.
Autor dos livros: “Sustentabilidade Corporativa, Cultura da Sustentabilidade e Alto Desempenho , Liderança – Sustentabilidade e Alto Desempenho, Equipe – Sustentabilidade e Alto Desempenho e Pessoas Certas