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Qualidade e transparência: O novo verde

Publicado em 24 . 11 . 2014

*Por Alessandra Caiado
Mineirão
Atualmente, fabricantes e projetistas possuem uma grande demanda por sustentabilidade em materiais e projetos. No que se trata de atributos para materiais, de um lado ouve-se uma “Torre de Babel” de siglas confundíveis – ACV[1], EPD[2], HPD[3] – relatórios ambientais para produtos. Ao mesmo tempo, convivemos com uma realidade brasileira onde muitos fabricantes ainda não atendem as normas técnicas específicas de seu produto (isso quando a norma existe). Produtos estrangeiros entram no Brasil também sem comprovar qualidade. Então, nos vemos em meio a dois grandes extremos: a exigência do mais alto nível de análise ambiental e a não conformidade com o desempenho técnico do produto. Como atuar então, como projetista e como fabricante?
Primeiramente, não adianta apavorar-se diante de tantas demandas: atendimento de norma técnica específica, segurança ao fogo, Norma de Desempenho (NBR 15575), LEED, AQUA, Procel Edifica, Red List, ACV, EPD… Sustentabilidade deve ser inicialmente avaliada pela qualidade do produto.
Fabricantes devem começar comprovando que tecnicamente o produto funciona. Que atende a norma técnica específica do produto e de preferência, com ensaios realizados em laboratório reconhecido de terceira parte. Se não existe uma norma técnica específica (nacional ou internacional), deve ao menos selecionar e ensaiar as principais alegações de seu produto para comprovar que realmente atende ao que se propõe. Uma propaganda de laboratório americana diz: “You can say it. I can prove it.” (“Você pode dizer. Eu posso provar.”). Se o principal atributo de seu piso é que ele é permeável, comprove permeabilidade. Se o maior problema do seu tipo de piso é que ele quebra, comprove que é resistente. E comunique isso ao seu consumidor. Conte para ele, de uma maneira fácil e didática, que o seu produto atende ao principal que oferece. E depois, determine suas próximas prioridades conforme a demanda do seu mercado. Se a maior demanda está sendo ajudar construtoras a atenderem o sistema LEED, quais informações, pertinentes ao seu produto, são necessárias para contribuir?
Diante de tantas exigências, o importante para os fabricantes é começar. Começar a organizar suas próprias informações e comprovações, e apresentar-se preparado para o mercado. Ou ainda, para diferenciar-se do todo, para ter uma comunicação que ao mesmo tempo eduque e se demonstre atenta às inovações. A maioria das divulgações de produto hoje comunicam as mesmas características: “alta durabilidade, elevada resistência, baixo custo, fácil instalação e baixo VOC (que aliás, deveríamos chamar de COV, pois esta sim é a sigla para o português Composto Orgânico Volátil). Como projetistas poderão especificar produtos a partir de alegações abstratas como “alta, elevada, boa e superior”? Projetos são desenvolvidos com números e referências e não com adjetivos.
Projetistas também devem continuar solicitando e focando nas informações básicas sobre o produto. Procure inicialmente entender se o produto atende a norma técnica específica e pergunte sobre questões de segurança, como resistência ao fogo e toxicidade do material. Estando tudo conforme, prossiga questionando sobre diferenciais ambientais, como conteúdo reciclado, origem da matéria-prima e local da fábrica, nível de composto orgânico volátil, ACV (Avaliação de Ciclo de Vida) ou EPD (Environmental Product Declaration – Declaração Ambiental do Produto) e certificações reconhecidas como o FSC (para produtos com madeira ou de origem florestal) e o Cradle to Cradle Certified™ (único selo multiatributo aceito pelo LEED v4).
Lembrem-se que nenhum produto é certificado pelo Green Building Council. O Green Building Council certifica apenas edifícios que atendem o sistema internacional LEED. Empresas podem ser membros do Green Building Council Brasil que representa a ONG americana USGBC (US Green Building Council). E ainda: o produto pode possuir uma ACV ou EPD e ter conteúdo reciclado, mas isso não significa que o produto é ecológico. A empresa que apoia uma causa deverá se esforçar e provar que possui um produto diferenciado. Um relatório de Análise de Ciclo de Vida é como um exame de sangue: quem o faz não necessariamente está saudável, é preciso analisar todos os dados e avaliar. E por fim, um produto com conteúdo reciclado não será ecológico se quebrar facilmente, for tóxico ou propagar chamas rapidamente.
Todas essas ações podem sim, significar que o fabricante está apoiando uma causa importante, conhecendo os próprios impactos e melhorando seus processos, desenvolvendo produtos com menor impacto ambiental. E a transparência da sua comunicação, seus esforços em buscar uma sustentabilidade contínua, poderão ser considerados, favorecidos e prestigiados.
Não adianta esperar por um símbolo que indique por si só se o material atende ou não o LEED, se um produto é ou não sustentável. Esse poder de análise deve ser do projetista, do consumidor. Dependerá de como e onde o produto será aplicado na obra. E dos valores de cada profissional que faz a análise. “O que é mais sustentável para meu projeto? Um produto estrangeiro com muito conteúdo reciclado ou um produto nacional com pouco conteúdo reciclado?” A prioridade pode ser baixa toxicidade para a pintura de um quarto e boa fixação para a pintura de uma fachada. Ambas são critérios de sustentabilidade, tanto toxicidade quanto durabilidade.
Desta forma, fabricantes devem focar em comunicar-se corretamente, com transparência e com a responsabilidade de comprovar seus dados. Projetistas e especificadores devem retomar o poder de exigir informações comprovadas, analisar e escolher, ponderando todas as informações possíveis.
Texto escrito pela professora do curso “Materiais: quais informações solicitar e informar para o mercado de Greenbuilding”, Alessandra Caiado, Arquiteta e Urbanista e mestre em Tecnologia da Arquitetura pela FAU-USP
Para maiores informações sobre o curso de Materiais, acesse:
http://gbcbrasil.org.br/detalhe-curso.php?idCurso=30
[1] ACV – Avaliação de Ciclo de Vida. Pode ser desenvolvida para um produto ou para um edifício. Resulta em números que apresentam consumos e emissões e o quanto isso gera de impacto no meio ambiente. É desenvolvida seguindo a NBR 14040.
[2] EPD – Declaração Ambiental de Produto. É o relatório de ACV verificado por um organismo acreditado de terceira parte. É a rotulagem Tipo III, que segue a norma ISO 14025.
[3] HPD – Health Product Declaration. Como a ACV e a EPD não consideram a toxicidade do produto, o mercado desenvolveu uma ferramenta para divulgar composições químicas e seus riscos. http://hpdcollaborative.org/about/guiding-principles/
 
 

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