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Vivemos em um mundo cada vez mais mobile ou inmobile?

Publicado em 15 . 08 . 2017

A cada dia, surgem novas tecnologias que nos habilitam a ter uma vida muito mais móvel (mobile), mas será que isso ocorre de fato? Se por um lado, já podemos trabalhar, praticamente, em qualquer lugar do mundo, utilizando computadores portáteis, tablets, smartphones, conexões 4G, wifi acessíveis e muitos outros gadgets, por outro lado, mesmo com todos esses recursos, o deslocamento de uma pessoa de um ponto a outro, em especial nos centros urbanos, é cada vez mais complexo, desgastante e um agressivo consumidor de nossas preciosas horas de vida. 
 
Para se ter uma ideia, na última década, a cidade de São Paulo teve uma média diária de 118 km de congestionamentos nos horários de pico. Com isso, os paulistanos perdem, em média, 27 dias por ano presos nos congestionamentos (CRUZ, M. F, 2010). É muita coisa! 
 
Somados aos impactos na qualidade de vida das pessoas, há também um gigantesco dano ao meio ambiente. Os veículos, coletivos ou individuais, estando em movimento nas ruas ou parados em congestionamentos, estão consumindo combustível (recurso natural esgotável) e emitindo gases poluentes (aquecimento global e impactos na saúde) de maneira contínua. 
 
Tendo isso em conta, no desenvolvimento do referencial LEED BD+C Building Design and Construction V04, foi estabelecida uma categoria especifica de créditos chamada “Localização e Transporte” com objetivo de mitigar esses impactos através dos green buildings. Dada sua relevância, essa categoria possui aproximadamente 16% dos pontos possíveis na certificação, sendo até maior que categorias importantes como a de Eficiência Hídrica (11%) e de Materiais e Recursos (13%). 
 
Para a obtenção de grande parte dos pontos dessa categoria, é fundamental que seus requisitos sejam observados já no processo de seleção do terreno pois são muito vinculados as características da localidade. Após selecionado o terreno, ainda é necessário aplicar estratégias para reduzir o uso de veículos automotores por seus ocupantes. A seguir, segue um breve resumo dos créditos desta categoria. 
 
No primeiro crédito dessa categoria, há o incentivo para que o terreno do empreendimento seja escolhido dentro de um bairro que já possua uma certificação LEED-ND for Neighborhood Development, ou seja, que tenha sido desenvolvido dentro de conceitos modernos de urbanismo e sustentáveis. 
 
O segundo crédito, chamado “Proteção de Áreas Sensíveis”, estimula a seleção de terrenos em áreas que sejam previamente desenvolvidas, ou seja, que não irão demandar o espraiamento das cidades e a decorrente necessidade de extensão de redes de energia, água, estradas, transportes, etc. Caso não sejam áreas desenvolvidas, os terrenos não poderão ser áreas de agricultura, que possuam espécies ameaçadas, áreas de inundação,  próximas de mananciais ou que tenham sido parques públicos. 
 
No terceiro crédito, chamado “Local de alta prioridade”, o empreendedor é encorajado a buscar áreas que, apesar de usualmente descartadas pelos incorporadores, carecem de investimentos e precisam ser desenvolvidas, tais como: terrenos classificados como contaminados, distritos históricos, comunidades de baixa renda, locais de reurbanização, dentre outros. 
 
No quarto crédito, chamado “Densidade do entorno e usos diversos”, há o direcionamento para seleção de terrenos que possuam uma boa densidade de edifícios ao seu redor ou que possuam um boa quantia de serviços básicos em seu entorno (mercados, farmácias, lojas, etc.). O objetivo é assegurar que os ocupantes possam morar nas proximidades (menos deslocamentos) e também utilizar os serviços do entorno sem o uso de veículos automotores. 
 
No quinto crédito, chamado “Acesso a transporte de qualidade”, o objetivo é selecionar terrenos que possuam uma boa infraestrutura de transportes públicos em sua proximidade (ônibus, trem, balsa, etc.), incentivando o uso desse tipo de transporte por parte dos ocupantes e visitantes em detrimento ao veículo automotor individual. 
 
No sexto crédito, chamado “Instalações para bicicletas”, é mantido o mesmo objetivo do crédito anterior, mas por meio do incentivo a instalação de uma infraestrutura adequada no edifício (bicicletário, vestiários, armários, etc.) para que os ocupantes e visitantes possam utilizar bicicletas como meio de transporte. 
 
No sétimo crédito, chamado “Redução da área de projeção do estacionamento”, o objetivo é que seja disponibilizado o menor número de vagas de estacionamento possível para que haja o incentivo ao uso de outros meios de transportes. A exigência é disponibilizar um percentual de vagas inferior ao que for estabelecido pelos códigos locais. 
 
No oitavo e último crédito, chamado “Veículos verdes”, após esgotadas as demais opções de transportes, incentiva-se a utilização de veículos de baixa emissão de poluentes. Para isso, o edifício deverá disponibilizar vagas exclusivas para veículos verdes, bem como, prover pontos de abastecimento de carros elétricos ou de fornecimento de combustíveis alternativos (gás, hidrogénio, etc.) 
 
De maneira geral, o papel do empreendedor no desenvolvimento de uma cidade com maior mobilidade por meio da construção de edifícios green buildings é subestimado e muito pouco aproveitado. Essa categoria de créditos do LEED vem muito a ajudar nesse sentido. 
 
Por fim, o desenvolvimento de um edifício que tenha a mobilidade em seu DNA, além de facilitar sua certificação LEED, também irá valorizá-lo como negócio, aumentando sua atratividade comercial, ampliando sua resiliência as condições caóticas das cidades e, não menos importante, alinhando-o a tendência global de mobilidade que vivemos. 
 
Curso “Como se Tornar um LEED AP BD+C” com inscrições abertas no site do GBC Brasil!
Próximas turmas:

 
Texto escrito por: 

 
Engenheiro Anderson Benite, LEED AP BD+C, Consultor em Inovação Tecnológica e Green Buildings, Professor do curso do GBC Brasil sobre “Como se Tornar um LEED AP BD+C (Building Design + Construction)“.

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